Ruas Seculares de Lisboa

O Jardim do Príncipe Real foi o local de início para mais uma saída – ação de formação da LPN, em Lisboa. Caminhando com um “olhar mais profundo” por pontos emblemáticos da capital desvendou-se a origem geológica, a geodiversidade e biodiversidade que condicionaram a sua ocupação humana e história secular.


 
Pelas ruas antigas, praças e jardins este itinerário surpreendeu-nos pela riqueza em espécies botânicas, como também pela possibilidade, de mesmo em ambiente urbano, tanto nas fachadas dos edifícios, como nos muros, ou em afloramentos poder-se ter acesso à Geologia da cidade, bem expressa na toponímia da cidade, pela exploração efetuada dos recursos geológicos e da hidrogeologia local.

 

Com efeito, a vasta diversidade de rochas aflorantes na região que constituem o substrato geológico da cidade, foram desde muito cedo utilizadas como materiais de construção e de matéria-prima para várias indústrias e deram origem a aquíferos que constituíram durante muito tempo as mais importantes fontes de água potável da cidade.

 

Visitando alguns jardins/miradouros identificaram-se alguns aspetos da flora e das árvores, algumas delas classificadas como de interesse público, interligando-se a Geologia com a Botânica e História. Também a perceção do risco sísmico ao relembrar o terramoto de 1755 foi inevitável, evidenciando na rua da Madalena, o local onde se “fratura” a resposta da cidade pombalina com a intensidade das ruas medievais da Alfama.

 

A transição entre a capital medieval com a cidade moderna pombalina que se acabou por projetar além-fronteiras assentou nas condições naturais geológicas e geomorfológicas. Importa ter em atenção essas mesmas condições naturais, como por exemplo possíveis alterações resultantes do crescimento da cidade que para além da desertificação da população residente do centro histórico descaracterizam a “memória” da cidade e potenciam os riscos naturais.

 

A percepção desses riscos pelas populações torna-se assim prioritário. Estamos em crer que a continuidade destas ações de educação e formação que “saia das portas da escola” dando a conhecer “in situ” permite um maior envolvimento dos cidadãos na prevenção de desastres naturais fortalecendo os sistemas de gestão dos riscos. Gostar mais da cidade, sentir as árvores, para a melhor proteger é essencial para a conservação dos espaços verdes urbanos e do sistema cidade, valorizando-os.

 

 

Numa tarde bem chuvosa, junto ao quiosque do jardim do Príncipe Real ou Jardim França Borges, o Engº Rui Queirós do ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas) e o professor destacado na LPN – Jorge Fernandes iniciavam a ação há muito esperada pelos participantes na Felicitas Julia Olisipo (estatuto de município atribuído por Júlio César).  Após a introdução e formalidades respetivas da saída inserida numa ação de formação de professores, ao cuidado do professor destacado, os participantes iam desafiando muito destemidamente as más condições meteorológicas do momento, pois tinha sido mencionado aviso vermelho de precipitação e vento para Lisboa até às 16 horas.
 
O nosso roteiro era o seguinte: Jardim do Príncipe Real – Jardim de S. Pedro de Alcântara – Igreja de S. Roque – Largo do Carmo - Convento do Carmo – Rua da Madalena – Teatro Romano – Miradouro de Santa Luzia e Geomonumento da Rua da Judiaria.

 

 

Jardim do príncipe Real. Início da ação junto à Figueira da India.

 

 

No jardim de traçado romântico recheado de plantas exóticas, onde está instalado o reservatório subterrâneo de água da patriarcal que foi programado para abastecer de água a zona baixa da cidade, subitamente, uma luz começou a brilhar na nossa direção. E o tempo começa a melhorar, permitindo as condições para a continuidade da saída nesse oásis de verdura e frescura, que constitui o Jardim do Príncipe Real.


Nesse preciso momento de melhoria das condições meteorológicas, o Engº Rui Queirós começa a dirigir-se para um dos três exemplares classificados pelo ICNF de Figueiras-da-Austrália (Ficus macrophylla), árvores que formam um ambiente tropical. Plantado entre 1850 e 1863, o Jardim do Príncipe Real, presentemente, conta com seis árvores classificadas pelo ICNF, um estatuto de proteção e reconhecimento da sua importância.

 

 

Descrição das espécies de botânica pelo Engº Rui Queirós, junto à esplanada do Jardim do Príncipe Real.

 

 

 

 

As raízes aéreas da Figueira da Austrália representam uma estratégia de sobrevivência em solos pouco arejados e com o tempo as raízes aéreas alcançam o solo, enraizando e formando novos troncos permitindo o seu crescimento na horizontal. Na verdade, começamos a prestar mais atenção não só aos troncos, às árvores retorcidas,  às suas copas e à sua altura, mas também a raízes bizarras, a raízes crepitantes… será que as árvores revelam muitos segredos como provavelmente o de comunicarem? Se nos pudessem ouvir, de certeza que as árvores abraçavam o diálogo do Engº Rui Queirós que nos ia elucidando sobre este lugar emblemático da cidade de Lisboa, explicando as suas espécies botânicas.


Ao lado da Ficus macrophylla podíamos observar outra Ficus, a Figueira Benjamim (Ficus benjamina), oriunda das florestas tropicais da Ásia, e que é a árvore oficial de Banquecoque. Muito usada na decoração e interiores, gosta de ambientes quentes sendo que com efeito adaptou-se bem em Lisboa. Com a altura a ultrapassar as majestosas copas das Ficus macrophylla, surge a conífera Araucaria colunaris, árvore também classificada pelo ICNF e originária da Nova Caledónia contribuindo ainda mais para o exotismo do jardim.

 

 

 

No canteiro, ao lado do lago, destaque para as três magnólias (Magnolia grandiflora) com as suas grandes flores vistosas que são das maiores em espécies arbóreas e para a Paineira Barriguda (Ceiba crispiflora), árvore típica do Brasil, com o seu tronco barrigudo (daí o seu nome) e espinhoso. Para além de outras espécies identificadas e explicadas no jardim, pelo Engº Rui Queirós destaque para o seu mais famoso habitante, o secular cedro-do-buçaco (Cupressus lusitanica), com a sua imensa copa de 26 m de diâmetro apoiada numa velha estrutura de ferro.

 

 

Cedro do Buçaco (Cupressus lusitanica).

 

 

Bem poderíamos estar as quatro horas neste jardim exuberante em espécies vegetais com a descrição infinita” do jardim e das suas plantas,do Engº Rui Queirós mas tínhamos um trajeto a cumprir igualmente rico e começámos a caminhar pela rua D. Pedro V em direção ao Jardim de S. Pedro de Alcântara já com a orientação também do Engº Jorge Sequeira do Museu Geológico de Lisboa.


A chuva já tinha cessado como se rendesse às explicações bem fundamentadas e conhecedoras dos nossos orientadores e ao chegarmos ao jardim de S. Pedro de Alcântara com a sua magnífica vista sobre Lisboa, no alinhamento do lódão bastardo (Celtis australis) e do lódão americano (Celtis occidentalis) o Engº Jorge Sequeira começou por nos dar uma descrição geral e o enquadramento da Geologia de Lisboa.

 

 

Descrição da Geologia de Lisboa pelo Engº Jorge Sequeira.

 

 

“O substrato rochoso de Lisboa tem sido aproveitado, desde há séculos, pelo Homem para a construção da cidade: os empedrados do calcário dos passeios, os paralelipípedos de basalto, as cantarias de calcário lioz, os arenitos, as areias e argilas miocénicas foram explorados e a exploração desses recursos minerais foi-se fazendo ao longo dos séculos tendo tido a cidade muitas pedreiras” dizia o Engº Jorge Sequeira.

No Jardim de S. Pedro de Alcântara com a bela vista para a colina de Santana e para o castelo ficamos surpreendidos perante todas essas transformações históricas ocorridas na cidade, da relação entre a Geologia e a História e ao ter-se o conhecimento que naquela zona agora tão bela e nobre, de que após o terramoto de 1755, esses terrenos foram vazadouros de animais mortos que eram atirados da muralha ali projetada durante o reinado de D. João V.

 

Com a informação que antigamente, a zona do bairro Alto tinha vários moinhos de vento e com o vento a amainar fomos em direção ao Convento do Carmo. Passando pela cervejaria mais antiga do país que ocupou parte daquilo que foi o Convento da Santíssima Trindade, datado de 1294, e destruído pelo terramoto de 1755, chegámos ao Largo Trindade Coelho. Aí situa-se hoje a sede da Santa Casa de Misericórdia de Lisboa e observa-se a Igreja de S. Roque, uma das primeiras igrejas Jesuítas do mundo e um dos raros edifícios que ficou relativamente incólume ao terramoto de 1755.

 

A caminho do Convento do Carmo o Engº Jorge Sequeira e o professor destacado destacaram o edifício – palácio Valadares que constituiu a primeira Universidade fundada no reinado de D. Dinis, em 1290, com o nome de Estudo Geral antes de ser transferida para Coimbra e que funcionou como Escola Secundária Veiga Beirão até 1996 e Escola EB 23 Fernão Lopes até 2006. Ainda no Largo do Carmo, rodeado de jacarandás observou-se o Chafariz do Carmo que era abastecido pelo aqueduto das Águas Livres através da Galeria do Loreto tendo sido um dos chafarizes mais procurados pelos aguadeiros.

 

A colina onde se insere a estrutura situa-se entre três formações geológicas de idade miocénica, as designadas Camadas dos Prazeres, as Areolas da Estefânia e os Calcários de Entrecampos. As areolas da Estefânia que se sobrepõem à primeira desenvolvem-se desde Carnide até à Baixa passando no Bairro Alto e base da colina do Castelo de S. Jorge, e são constituídas por areias finas, areias argilosas, argilitos e alguns bancos de biocalcarenitos. Mandado erguer por D. Nuno Álvares Pereira, o Convento do Carmo foi considerado a principal igreja gótica da capital e tinha como objetivo rivalizar com o poder régio situado na colina oposta do vale do Rossio. A sua matéria prima de construção foi constituída pelos calcários da formação da Bica que foi explorada durante séculos em diversos locais dos flancos do Vale de Alcântara.

 

Atentos às descrições do Engº Jorge Sequeira os participantes são de súbito confrontados, com presença, nas rochas utilizadas nos elementos arquitectónicas modernos, de fósseis com a forma de “ovo estrelado”, formas de aspeto “rude” de seres vivos antigos…

 

Nestas rochas, equivalentes às utilizadas na construção do Convento onde praticamente são invisíveis, observavam-se fósseis de rudistas, constituintes essenciais da rocha ornamental e de construção designada por Lióz, que ocorre no seio da formação carbonatada datada do Cretácico Superior. Essa formação designada por Formação de Bica, é aflorante na parte ocidental da Cidade de Lisboa e já fora dos limites da capital, entre outros locais, na região de Pero Pinheiro (Sintra) onde continua a ser explorada e largamente utilizada nas intervenções arquitetónicas modernas de Lisboa. Os rudistas constituíram um grupo de bivalves que se extinguiu na mesma altura da maioria dos dinossauros e que apresentavam um aspeto muito diferente dos bivalves que existem atualmente. A sua presença no nível de calcários com Rudistas da Formação de Bica, testemunha a existência, nos locais onde ocorre, de um antigo mar tropical costeiro, pouco profundo de águas quentes e límpidas.

 

 

 

Observação de diferentes aspetos dos materiais de construção utilizados na construção de antiga capela (arruinada) anexa ao Convento do

 

 

Mas será que a construção do Convento foi uma tarefa fácil e similar como de outros monumentos? “O local de implantação do Convento do Carmo, em declive acentuado e cujo solo arenoso era instável não era favorável à construção impedindo que os alicerces ficassem de pé” diz o Engº Jorge Sequeira. Só à 3ª tentativa, passados oito anos, é que se construíram finalmente os alicerces resultantes de um inteligente processo de engenharia pelos mestres contratados, construindo um grande esbarro no desnível da colina (Pereira, 2002).

 

Em 1755 o edifício foi fortemente afetado pelo terramoto e a sua reconstrução do grande símbolo da ordem Carmelita em Portugal exigia verbas avultadas pelo que hoje os seus arcos pseudo-góticos constituem um monumento ao terramoto - “Estacionou como um símbolo de pedra- – um esqueleto, ou um sinal dessa Morte incontornável que espreita a praça universal, lá em baixo, essa praça do Mundo que é o Rossio (Pereira, 1989, p.112 in: Pinheiro, H., 2015).

 

 

Convento do Carmo – descrição da história e geologia do monumento pelo Engº Jorge Sequeira.

 

 

Observando os calcários com rudistas (Lióz) da Formação da Bica no Convento do Carmo.

 

 

Estava a aproximar-se a hora do lanche e ainda estávamos a meio do itinerário proposto. A curiosidade e o entusiamo tornavam a tarefa um pouco ambiciosa pelo que tínhamos de calcorrear ainda bastante desde as ruas do sítio da Pedreira (Chiado) pelo traçado pombalino até à rua da Madalena.     No meio da travessia, passando pelas ricas pastelarias e cheios de fome, alguns dos participantes não resistiram à doçaria portuguesa e por breves instantes ausentaram-se da ação de formação. O próprio professor destacado que organizava a ação juntamente com alguns participantes teve de condescender à “pressão do momento” e alguns formandos separaram-se dos outros formadores e renderam-se ao cheiro que exalava dos pastéis de nata quentinhos que afinal até constituem um símbolo cultural de Lisboa e que importava realçar…

 

Bem, após esse pequeno acontecimento sem consequências, chegamos cheios de energia à confluência arquitectónica da cidade pombalina com a malha urbana medieval de Alfama. De logo somos surpreendidos com ruínas romanas na garagem de edifícios a caminho pela antiga freguesia de São Mamede que foi muito afetada pelo terramoto de 1755. Mais uma vez a influência do substrato geológico fez-se sentir pois é constituído pela formação das areias da Quinta do Bacalhau. Trata-se de uma formação constituída por depósitos regressivos de origem fluvial ou deltaica, de areias arcósicas, com bancadas de argilito cinzentos.

 

 

Caminhando pela Travessa do Almada junto às ruínas romanas situadas na garagem do edifício da Rua das Pedras Negras nº 26.

 

 

Chegados à encosta sul do castelo de S. Jorge, deparámo-nos com as ruínas de um teatro romano construído no século I, no tempo do imperador romano Augusto tendo sido posto a descoberto após o terramoto de 1755. Objeto de várias campanhas arqueológicas as ruínas foram classificadas pelo IPPAR, como Imóvel de Interesse Público em 1967.

 

Subindo a rua do Limoeiro o movimento era intenso, a zona estava repleta de turistas que ficavam um pouco entreolhados ao verem o nosso grupo todo rodeado a olhar para os muros e para as rochas. Será que pensavam que estávamos à procura de Pókemons?

 

 

Descrição da Geologia da área envolvente ao Castelo de S. Jorge no Largo do Correio Mor  pelo Engº Jorge Sequeira.

 

 

Fortemente atingida pelos terramotos de 1531 e de 1755 passamos ao lado da Igreja de Santiago. Ali os filhos de Gil Vicente foram batizados e embora não havendo documentos comprovativos pensa-se que talvez tivesse sido o local do casamento de Cristóvão Colombo com Filipa Moniz Perestrelo.


 
Até que junto ao miradouro de Santa Luzia em frente à entrada da cadeia do Limoeiro, a mais importante prisão citadina do séc. XVIII, somos surpreendidos com uma planta herbácea frondosa que ali se encontrava isolada. Com mais de 100 anos, ela é classificada como uma planta de interesse público pelo ICNF, sendo, portanto um património a proteger. “Trata-se da Bela Sombra ou Ombu (Phitolacca dioica) com distribuição natural nas pampas da América do Sul e que é um símbolo da cultura gaúcha do Uruguai e da Argentina” diz o Engº Rui Queirós. Apesar do seu porte arbóreo, a bela Sombra é uma planta herbácea pois o seu caule é esponjoso, podendo facilmente ser cortado com uma faca. De crescimento rápido a planta é dióica, isto é tem flores unissexuais. No entanto, as suas raízes estão a entrar já pela porta do Centro de Estudos Judiciários, aproximando-se dos carris do elétrico tendo sido já ferida violentamente através de uma poda porque estava a interferir com as catenárias dos elétricos… pergunta-se se não haverá uma questão técnica que não prejudique esta bela planta com caraterísticas ornamentais únicas. Torna-se prioritário a sua conservação por técnicos qualificados, que impeçam ações de mutilação, como por exemplo a efetuada no exemplar classificado de outra Bela Sombra localizada em Campo de Ourique que devido a uma poda desastrosa a conduziu à sua desclassificação.

 

 

Descrição pelo Engº Rui Queirós da Bela sombra (Phitolacca dioica).

 

 

Chegados à igreja de Santa Luzia e miradouro construídos sobre a Cerca Moura, a muralha primitiva que cercava Lisboa, daí abarca-se Alfama onde fizemos a foto de grupo pois já era a hora do fim da nossa saída. No entanto, muitos participantes desejaram continuar descendo pelas ruas estreitas, íngremes e charmosas de Alfama ao longo da muralha moura até à rua da Judiaria, onde o Eng. Jorge Sequeira continuou a saída, percebendo-se que as antigas casas estão a dar lugar a prédios reabilitados.

 

 

Troço da Muralha Moura assente sobre afloramento de  Biocalcarenitos na rua Norberto Araújo. Fotografia de Edmundo Rijo.

 

 


O Engº Jorge Sequeira revela-nos que uma parte importante do património histórico do bairro de Alfama se encontra nas suas águas, as chamadas Alcaçarias, que apesar de atualmente serem praticamente desconhecidas, tiveram um papel fundamental na história desta parte da cidade. Na década de 60 do século XX tornou-se mesmo muito popular embora não tivessem sido classificadas como águas minero medicinais à luz da legislação em vigor (Ramalho, E; Lourenço, M; s.d).


Constituindo um património histórico e hidrogeológico poderia justificar-se a promoção do seu aproveitamento, e por outro lado, o aproveitamento geotérmico das águas potenciaria a valorização de um recurso endógeno local e amigo do ambiente. Chegados à rua da Judiaria o Engº Jorge Sequeira salientou no lado sul, a existência da muralha moura ainda intacta em comparação com o lado norte da rua totalmente destruído durante o terramoto, pois estava-se na rua na intersecção da falha de direção NW-SE, no contacto entre o Complexo de Areias da Quinta do Bacalhau e o Complexo do Banco Real (Miocénico).  


A ação estaria concluída no geomonumento da rua da Judiaria, pois já era noite, não fosse o caso do interesse e incessante curiosidade de alguns participantes que levou a que muito depois da hora prevista do fim da saída, ainda se observasse na penumbra, fósseis de gastrópodes marinhos extintos nas fachadas dos prédios do largo do Terreiro do Trigo.

 

No fim desta formação através de um itinerário urbano, os professores constataram que é possível efetuarem ações de educação ambiental na cidade e que elas podem ser uma mais-valia na sua ação educativa.


Tendo em vista que o motor da ação educativa não é só de conhecimento, mas também de sensibilidade, a realização de ações de educação ambiental em meio urbano permitem criar condições para uma maior articulação curricular entre as disciplinas, condição essencial para a educação ambiental.


Sendo o ambiente uma área holística, que se amplia como uma árvore procede pelo alastramento das suas raízes em busca de novos nutrientes e mais terreno, no paradigma emergente o conhecimento é total. Mas sendo total, também é local, constituindo-se em redor de temas com projetos. Por exemplo, a partir de um projeto – problema, como seja o aparecimento de novas emergências de água nos pisos térreos de alguns prédios da Calçada da Bica em Lisboa pode ser a introdução para uma temática que permita uma transgressão metodológica nas práticas de educação.  


Levando os alunos a investigar esta temática, podem-se produzir e conduzir inquéritos à população, envolvendo-a, com a história do local. Poderão estudar a Geologia de Lisboa e do local, a crescente urbanização que pode provocar impactes nos aquíferos; na educação visual podem desenhar na zona envolvente as plantas do local ou desenhar as janelas e fachadas; na Geografia podem investigar a influência do clima na cidade, a meteorologia; na Biologia a menor presença de espaços verdes nas zonas históricas e a sua influência da taxa de infiltração profunda, o estudo das espécies botânicas nos jardins envolventes ou mesmo quando isoladas, na Física e Química na impermeabilização que pode levar à contaminação físico-química e microbiológica da água que se infiltra; na Matemática poderão determinar o diâmetro das árvores e a taxa de armazenamento de carbono das árvores isoladas ou dos jardins envolventes; nas Ciências Sociais, investigar as alterações da taxa de ocupação dos edifícios, as mudanças sociais nos locais históricos de Lisboa e na Língua Portuguesa investigar e estudar textos literários sobre a cidade de Lisboa.


 O exemplo desse tema pode ser a galeria por onde os conhecimentos se podem interligar permitindo corresponder ao perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória e contribuir para o Desenvolvimento Sustentável proporcionando condições para o cumprimento do eixo temático – Valorizar o território da Estratégia Nacional de Educação Ambiental.

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