À descoberta da Geodiversidade de Lisboa

Os alunos do 10º ano do Agrupamento de Escolas Lindley Cintra navegaram pela Geodiversidade de Lisboa através do projeto Despertar para a Natureza dando-se a conhecer, observando e investigando os Geomonumentos e vários aspetos geológicos e paleontológicos de alguns afloramentos.

 

Conhecer o “chão que pisamos” é fundamental para abrirmos uma “janela do passado”, planearmos um futuro mais seguro e de sustentação urbana. O estudo da Geodiversidade é uma vertente importante da Conservação da Natureza. Sendo o suporte essencial para a biodiversidade é fundamental para entendermos a evolução da civilização e do ambiente. Inerente também ao estudo da Geodiversidade são as obras públicas, prospeção de água e o seu valor económico constatável nas inúmeras pedreiras que foram exploradas em lisboa para diversos fins.

 

Os Geomonumentos constituindo exomuseus são assim referências da geodinâmica, geohistória reunindo interesse científico, pedagógico e cultural e  geoturístico.

 

A saída de campo com a orientação do professor destacado foi organizada pela professora Paula Pires, incluída no leque de possibilidades das ações do projeto Despertar para a Natureza da LPN e que conta com o apoio da EPAL.

 

Realizando-se um percurso temático pela cidade de Lisboa descreveu-se não só os aspetos geológicos e paleoambientais, mas também a interligação das geociências com a história da cidade, a dimensão urbanística, artística, social e económica.


 

Dos 18 Geomonumentos selecionados pela Câmara Municipal de Lisboa na sequência do protocolo efetuado  com o Museu Nacional de História Natural e de  trabalhos efetuados  pela Faculdade de Ciências de Lisboa efetuou-se a visita da escola a 4 estações com as seguintes paragens: 

 

  • Estação da CP de Benfica, junto da sede da LPN.
  • Geomonumento do Rio Seco,
  • Geomonumento da Rua Aliança Operária 
  • Parque da Pedra no Parque Florestal do Monsanto. 

 

No afloramento da Estação de Benfica, perto da sede da LPN, divulgou-se um dos afloramentos raros e significativos de sedimentos do Período Paleogénico (≈ 40 Ma) de Lisboa. Esses sedimentos  revelam que nessa altura Lisboa,  ainda sem o Tejo a delimitá-la a Sul, exibia uma paisagem continental, sub-árida, onde os fenómenos erosivos atuavam de forma intensa. Os sedimentos encontrados revelam transporte por grandes rios de regime torrencial, instalados numa rede de drenagem pouco organizada com a formação e espessas séries de caráter conglomerático que constituem o Complexo de Benfica. Infelizmente o local revela sinais de degradação e abandono e a ser invadido por espécies invasoras, nomeadamente  pela espécie - Bons Dias - (Ipomoe indica).  Os alunos ficaram alertados pelo facto de este afloramento  não estar  classificado e da  necessidade da sua geoconservação.


 

Embora exista um roteiro dos Geomonumentos de Lisboa da Câmara  Municipal de Lisboa,  que conta com a implementação de painéis informativos e visíveis em dispositivos móveis, alguns Geomonumentos continuam a ser um património ainda esquecido, quase ignorado, sujeito à destruição e vandalismo.

 

Afloramento do Complexo de Benfica (Paleogénico) – Junto à Estação de Benfica.

 

 

Observação dos conglomerados no afloramento do Complexo de Benfica (Paleogénico).

 

 

Seguidamente, visitou-se o Geomonumento do Rio Seco, que materializa as rochas mais antigas de Lisboa  num ambiente de transgressão marinha. Localizado numa antiga pedreira, são visíveis nos calcários compactos de cor branca  inúmeros fósseis, destacando-se a presença de rudistas (grupo de bivalves extintos indicadores de ambiente recifal). Para além disso,  ao longo do período de sedimentação e consolidação desses sedimentos ter-se-ão formado pequenas lagunas entre os recifes criando condições para a formação  de inúmeros leitos e nódulos de sílex. 

 

"O sílex usado para obtenção do fogo foi principal fonte de ferramentas e armas para o Homem  da Pedra, sendo utilizado mais tarde   entre os séculos XVII  e XIX  para o fabrico de pederneiras.  Nesta pedreira os calcários foram também explorados para o fabrico de cal" explica Jorge Fernandes- professor destacado na LPN a caminho de um pequeno percurso pedestre em direção ao próximo Geomonumento, na Rua Aliança Operária.

 

 

Geomonumento do Rio Seco.

 

 

Observação de leitos e nódulos de sílex nos calcários no Geomonumento do Rio Seco.

 

 

Chegados à Rua  Aliança Operária, observa-se numa escarpa  situada numa antiga pedreira, de basalto, uma rocha que ainda se pode observar nas calçadas de Lisboa e que foi explorada também para a produção de  britas.  Nesse local  constata-se uma Lisboa vulcânica,  com a idade de 72 Milhões de anos.  Embora ocultadas progressivamente as espessas escoadas lávicas  pelas medidas de estabilização por redes metálicas e pela planta trepadeira Ipoema Indica (Bons Dias) é observável ainda prismas aproximadamente hexagonais de basalto (disjunção prismática).

 

 

Geomonumento da Rua Aliança Operária – disjunção prismática do basalto.

 

 

A última paragem foi reservada para o Parque da Pedra, situado no Parque Florestal do Monsanto. Após uma breve introdução efetuada pelo professor destacado na LPN sobre o Parque Florestal do Monsanto, chegou-se ao Parque da Pedra, uma zona muito agradável onde se encontram junto ao geomonumento diversos equipamentos, como a parede de escalada e o circuito de obstáculos. O Parque da Pedra, antiga pedreira de Calcário, utilizada como materiais de construção  evidencia que no início do Cretácico Superior o nível global dos oceanos subiu e o mar invadiu a cidade de Lisboa. 

 

 

Observação e descrição dos calcários da formação de Caneças no Parque da Pedra.

 

 

 

Com a proposta efetuada de percurso temático pelos Geomonumentos de Lisboa, apresentada como uma perspetiva diferente/complementar do trabalho em sala de aula e, cruzando com outras áreas do curriculo, permitiu-se compreender, a mutabilidade do ambiente e entender-se a necessidade da sua conservação, que visa proteger a natureza, não só na sua vertente biótica, mas também abiótica. 

 

Para além de integrar os conteúdos essenciais da disciplina de Biologia- Geologia do Ensino Secundário  e para a promoção da educação ambiental, esta saída de campo foi um percurso de descoberta, de rochas,  minerais e fósseis, em articulação com as disciplinas afins. Através da relação da Geologia urbana (Lisboa) com a sua identidade histórica e cultural, os alunos foram "despertos" para a necessidade da geoconservação, tal como provam os trabalhos de qualidade efetuados posteriormente pelos alunos.

Subscreva a
nossa Newsletter

Se deseja receber informação atualizada sobre a LPN, por favor insira o seu email:

© 2018 Liga para a Protecção da Natureza.

Powered by bluesoft.pt